Apoio internacional
A entrada da Ucrânia no cenário internacional e a “proteção” que recebe do ocidente interfere no desfecho do conflito. “O ocidente vem pautando as ações da Ucrânia, que segue firme defendendo seu território”, diz Priscila Caneparo.
Segundo Andrew Traumann, a intenção da Ucrânia é obter uma vitória definitiva e humilhante para Moscou. Já a Otan e, principalmente, os Estados Unidos - que embora já tenham fornecido armamentos à Ucrânia - defendem uma paz negociada, evitando o desequilíbrio geopolítico na região. “A ideia dos aliados é escalar o conflito para facilitar a negociação, não necessariamente com a humilhação total da Rússia”.
Em relação a outros grandes conflitos, a guerra entre a Rússia e a Ucrânia tem poucos diferenciais, comenta Andrew Traumann. Ainda que a evolução das tecnologias empregadas na guerra seja visível, as semelhanças com outros episódios históricos são inegáveis: tentativa de dominação de um território (assim como se viu durante a Segunda Guerra Mundial), tomada de locais estratégicos, guerra de desgaste e de trincheiras (a exemplo da Primeira Guerra Mundial).
“Neste sentido, fora as tecnologias dos armamentos e mísseis, esta é uma guerra clássica”, afirma o professor, que completa: “Vladimir Putin não aceitará ser deposto e jamais assumirá uma derrota humilhante. Sem meio termo e sem um dos lados disposto a ceder, a situação se complica”.
Reflexos mundiais
Com infraestrutura extremamente abalada, a estimativa é de que a reconstrução da Ucrânia aos mesmos padrões pré-guerra demore mais de cem anos. Um reflexo do conflito em 2023, lista a professora Priscila Caneparo, é a insegurança alimentar, já que grande parte dos grãos que abastece o mercado norte da Europa eram da Ucrânia.
Outra questão é a dependência ocidental de gás e petróleo russos. “Todos os preços tiveram aumento na Europa e a grande pergunta é: até quando o contribuinte terá tolerância para sustentar esse esforço de guerra?”, questiona Andrew Traumann.
Para Priscila, esses temas tornam a guerra internacional, muito diferente das guerras civis da África, das situações que envolvem Iêmen, Sudão, Iraque ou Síria. “Não se trata apenas de uma crise humanitária, mas de um conflito que envolve dois estados. Há muito tempo o ocidente não interferia em uma guerra desta natureza, que discute, basicamente, a soberania dos envolvidos”, diz a especialista.
O futuro, aponta a delegada da ONU, é incerto. “Vladimir Putin é imprevisível, individualista e incapaz de cumprir com a palavra. No mês passado, anunciou trégua em respeito ao Natal ortodoxo, mas não respeitou sua própria decisão. A verdade é que a Rússia nunca aceitou bem a independência dos países do leste europeu e, portanto, sabemos que fará novos ataques em pontos estratégicos”.
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